Você já sentiu dor no joelho? Uma dor que te impossibilita de agachar e te leva a pensar que tem oitenta anos?
Deve estar se perguntando "que tipo de pergunta é essa?!" Essa é mais uma história sobre o diálogo corpo x valores. Começou com uma dor quase insuportável no joelho, mal conseguia dobrá-lo. Na época trabalhava em duas residências. Numa delas, às quintas, recebia 70,00 por dia, e na outra, às segundas, quartas e sextas, recebia 42,50 sem ajuda de custo com passagem. Nesta última, que ficava num bairro a 10km da minha casa, costumava ir a pé ou de bicicleta. Até então acreditava que amor próprio era ter cabelo e unhas em dia. Fiquei de cama por alguns dias. Num desses dias consultei no posto de saúde com uma médica muito interessante, que usava uma turmalina negra enorme sobre sua mesa, entre ela e seus pacientes. Ela receitou um anti-inflamatório e chá de semente de sucupira, além de um pedido de raio x e encaminhamento para ortopedista. Gostei dela. Essa pausa foi um bálsamo e uma chave de virada na minha vida. Fiz tudo certinho como ela pediu, e depois de alguns dias já me sentia melhor. Não só do joelho, mas alguma coisa mais profunda também havia sido regenerada. Chegando no trabalho, numa quarta-feira do final do inverno, toquei a campainha uma, duas, três vezes e não fui atendida. Dei meia volta, e a cada passo na volta pra casa reafirmava que não toleraria mais aquilo. Um trabalho mal remunerado, onde trabalhava como cuidadora de idosa, faxineira, cozinheira, organizadora, jardineira e boa ouvinte. Nunca mais voltei lá. E como ambas as casas em que trabalhava eram de parentes, parei de ir nas duas ao mesmo tempo. Desempregada sim, desocupada nunca. Entreguei os lindinhos cartões de visita que um ex-companheiro me dera de presente em todos os prédios e casas de bairros nobres e de classe média nas redondezas de onde eu morava. Enquanto não aparecia nenhum serviço fora, reformei, organizei, faxinei minha própria casa e minha vida. Costumava sair com diversos homens e algumas mulheres para encontros sexuais casuais. Chegou a um ponto em que percebi que depois desses encontros eu não me sentia melhor que antes. As vezes até pior, como se tivesse ferindo a mim pra agradar aos outros. Então, desde o momento em que decidi não passar por cima de mim, em honrar meus serviços, impor meu preço e não aceitar nada menos que isso; nunca mais tive dor no joelho. Nem cheguei a consultar com o ortopedista. Hoje em dia sigo solteira há quase três anos, sem encontros sexuais casuais e sem faxinar para pessoas desonestas e injustas. Claro, desde a dor no joelho em 2018, muitas experiências me ajudaram a aprimorar esse estilo de vida. Não foi da noite pro dia. Mas vem sendo cada dia melhor. Asceta: consiste em uma prática que visa ao desenvolvimento espiritual. Esse substantivo de dois gêneros expressa também a ambivalência da filosofia de viver eremita. Não necessariamente se privando dos prazeres. Não existe dicotomia nesse caminho. Nesse sincretismo encontra-se a autossuficiência. Obviamente não é um caminho pra todo mundo, mas é sim um caminho. Onde eu me encontrei. Onde caminho com os pés descalços sentindo a vida, e sem sentir a dor de me desvalorizar. E agora, você sabe a causa das suas dores? Você dialoga com seu corpo? Com o sofrimento vem o aprendizado, pois, se a pedra não incomodasse, continuaria a caminhar com ela dentro do sapato. No meu livro O que chamam de deus eu chamo de caos, agora disponível também na versão impressa, a narrativa se desenrola como neste texto. São vivências, sofrências, aprendizados, regenerações, conquistas e realizações. O meu viver mais nu, o meu ser mais cru. Livro físico: https://loja.uiclap.com/titulo/ua18327/?fbclid=IwAR3bkIvR4qSGkv5rR6FYdBOCZEwKJzUQIGLE5f5UFPtWNlunQ8K_RPJctfU Ebook: https://www.amazon.com.br/chamam-deus-chamo-caos-imprevisibilidade-ebook/dp/B09ZK978H6
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Carla FloresEscritora amadora, aspirante a filósofa, leitora vigorosa, amante da natureza e da psicologia. Uma mulher bissexual sobrevivendo numa sociedade homofóbica, misógina, machista e patriarcal. Categorias
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